sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Pequenas certezas

Eu não duvido do poder da música. Em um dia preto e branco ela me colore. Em um momento de tristeza ela traz de volta um meio sorriso. Em uma situação delicada ela me socorre.

Eu não duvido do poder do abraço. Ele transforma corações. Aproxima uma alma da outra. É a ponte para o reencontro. Traz de volta a paz. Remove qualquer impureza do espírito.

Eu não duvido do poder da chuva. Ela manda embora toda a desgraça, desamor e sujeira. Deixa tudo mais puro e renovado.

Eu não duvido do poder de um sorriso. Ele quebra qualquer gelo, desmonta uma cara feia, desarma quem trouxe munição no peito.

Eu não duvido do poder do olho no olho. Ele traz a confiança, a vontade de acreditar, a certeza de que ainda existe salvação.

Eu não duvido do poder do sol. Ele traz a saúde, devolve a beleza e de quebra ainda esquenta quem já congelou por dentro há tempos.

Eu não duvido do poder do perdão. Ele faz as cicatrizes ficarem mais suaves, devolve o viço da pele, ilumina o dia e o passado.

Eu não duvido do poder do amor. Ele traz o apoio, oferece o suporte, segura forte a mão, ajuda a segurar qualquer fardo, por mais pesado que possa parecer.

Eu não duvido do poder da fé. Ela ampara, acalenta, acolhe, aconchega, nos pega no colo e cantarola uma linda canção de ninar.


Eu não duvido do poder da vida. Ela ensina, reconstrói, resgata, ajuda, reencontra. E cura.

O que não quero mais

Não quero mais saber de você, que ri da desgraça do outro. Que faz o possível e o impossível para atingir seu objetivo, sem se preocupar em manter a dignidade, o caráter, a honestidade e o respeito. Que humilha quem tem menos que você. Que fala coisas do tipo é-por-isso-que-vai-ser-sempre-caixa-de-supermercado. Que pergunta com arrogância sabe-com-quem-você-está-falando? Que passa por cima de qualquer um só para ganhar um prêmio, um upgrade na carreira ou um elogio do chefe. Que esquece que o mundo é bem redondinho, nunca para de rodar e que hoje você pode estar no topo, mas amanhã talvez esteja no chão.
Não quero mais saber de você, que não tem educação. Que acelera o carro antes do sinal abrir. Que não é capaz de segurar a porta do elevador para o vizinho entrar. Que não tem paciência em escutar uma pessoa mais velha contar a mesma história mais de uma vez. Que faz questão de passar rápido pela poça d'água só para molhar quem está esperando um táxi. Que não cede o lugar no ônibus para uma mulher grávida ou idosa. Que pensa que as palavras "obrigada", "por favor", "com licença" e "bom dia" são demodê. Que acha que garçons, garis, vendedores e atendentes não merecem respeito. Que não sabe o que é uma gentileza.
Não quero mais saber de você, que se acha o centro do mundo. Que acha que tudo é recalque, inveja ou despeito. Que pensa que tem um poder fora do comum. Que não percebe que é apenas mais um e que nós todos somos iguais.
Não quero mais saber de você, que não valoriza um sentimento. Que acha que as pessoas são descartáveis. Que brinca com um coração e depois joga no saco de lixo como se fosse um brinquedo velho e quebrado. Que não entende que as relações precisam de paciência, doação e sinceridade.
Não quero mais saber de você, que não cuida do mundo. Que deixa a torneira aberta enquanto escova os dentes. Que toma um banho de 458 horas. Que joga papel do chiclete pela janela do carro. Que não junta o cocô que o cachorro fez na calçada. Que não apaga a luz quando sai do quarto. Que não separa o lixo. Que deixa a comida estragar na geladeira.
Não quero mais saber de você, que não pensa no outro. Que fica rindo alto no cinema. Que dá festas no apartamento com som alto depois da meia-noite. Que passa reto pela criança com fome. Que nunca olhou para o lado pra ver o que está acontecendo. Que não sorri para quem passa pelo seu caminho. Que não percebe que uma simples palavra muda o dia de alguém.
Não quero mais saber de você, que só pensa em vingança. Que esquece que todo mundo já errou um dia. Que ainda não entendeu que as pessoas nunca serão perfeitas. Que não sabe que o perdão é uma das coisas mais bonitas do mundo inteiro.
Não quero mais saber de você, que não quer evoluir. Que não se importa em aprender algo novo todo dia. Que não faz questão de reparar os erros. Que não se esforça em melhorar, estudar, crescer, ser melhor.
Não quero mais saber de você, que não consegue apreciar um pôr-do-sol. Que endureceu com os tropeços da vida. Que não sabe rir de si mesmo. Que não consegue dar um abraço sossegado, um olhar compreensivo, uma palavra de afeto. Que não tem a leveza necessária para enxergar as belezas diárias da vida.
Não quero mais saber de você, que não sabe amar.






sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Quando o livro te lê


Já se sentiu sendo lido por um livro? 
Em algum momento quando estava lendo já sentiu que aquele livro conversava com você? Parecia que te entendia melhor que qualquer outra pessoa, que sabia dos seus sentimentos mais íntimos que muitas vezes teve medo de expressar em voz alta.
Aquela cena, aquela frase, aquela palavra, que parecia resumir tudo o que você sentia, o que você passou. A identificação é instantânea e logo criamos com ele uma relação intima de amor e confiabilidade. Não é mais apenas um livro, é algo que te entende, que te ajudou, te leu, te refletiu, e emprestou suas paginas como ombros para você chorar, se emocionar e confessar silenciosamente segredos que só você sabe e ele sabe agora. São cúmplices.
Então você imagina, sonha, voa em palavras como em tapetes mágicos, e nem precisa fechar os olhos.... 
Personagens se tornam pessoas reais, você vê tudo de perto, os cria, seus rostos, personalidades, tem vontade de entrar, fazer a mocinha parar de brigar com o seu amor, tem vontade de encorajá-los a dizer o que pensam e se beijarem logo. Gritar a plenos pulmões para outro que ele está sendo enganado e que na verdade aquele que ele acha que é seu amigo é na verdade o assassino.
Quantas vezes não chorou quando mataram seus personagens preferidos? Quando as coisas não aconteceram do jeito que você queria? Que brigou com o autor e dizendo “não acredito que você fez isso”? Ou que pensou “quero um amor como esse para mim”, “ter uma amiga como essa personagem seria perfeito”. Você diz que está lendo o livro, você faz esse ato de ler, mas é ele quem está te lendo, que está te despertando todos esses sentimentos e o fazendo desejar a ponto de seus aspectos se tornarem reais em sua vida.
Isso é ler, aprender, é viver.
Nós leitores,( porque me identifico muito com tudo isso ) somos as pessoas mais felizes do mundo! Vivemos mil vidas, conhecemos muitas pessoas, e até mesmo anjos, fadas e dragões! Estudamos em Hogwarts, fomos para o acampamento meio sangue, vimos alguém se apaixonar por um vampiro. Sim, um vampiro! Presenciamos a coragem em jogos que literalmente você entrava para morrer e o inicio de uma rebelião. Caçamos demônios presenciamos anjos caídos serem verdadeiros guarda-costas. Choramos quando o último filme acabou no cinema e as luzes se acenderam, quando a última página foi virada.
Fala sério, e ainda tem gente que diz que ler é perda de tempo, a esses, nossos suspiros de lamentação.
Ler é viver uma vida completa, e conseguir passar isso as pessoas é saber dar o devido valor a leitura.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Medos

Quando eu penso que tudo está devidamente encaixotado e muito bem guardado tenho uma surpresa. Não, aquelas coisas todas que tentei organizar, esconder e colocar embaixo do tapete ressurgem. Mais firmes, mais fortes, tentando mostrar que não irão embora assim tão rápido. Bom mesmo seria se os nossos problemas e medos escuros fossem embora ao primeiro pedido. Medo, por favor, me deixa. Medo, por gentileza, sai à francesa. Medo, por obséquio, está na sua hora. Vem que te ajudo a arrumar as malas. Mas ele não arreda o pé. Insiste em ficar. E uma hora as forças te abandonam, uma hora elas chegam ao seu ouvido e dizem "não dá mais". E você se vê meio perdido, exausto de tanta luta, tentando encontrar um lugar onde consiga respirar aliviado. Mas o alívio não chega, a paz não chega, a tranquilidade não chega. E você pensa em desistir de tudo, já que está fraco, sem esperança, sem vontade de seguir adiante nessa batalha que é dura, dolorida e pesada demais. Só que alguma coisa dentro de você grita alto. Essa coisa é a tal força. Ela diz que você não pode se entregar, que é necessário segurar as pontas, aguentar mais um pouco e que sempre há uma alternativa. E te alerta: por que ao invés de obrigar o medo a ir embora você não o acolhe? Por que não pega o medo no colo, faz carinho, dá beijos e abraços? Por que ao invés de lutar contra ele você não o convida para um cafezinho com biscoitos de sequilho? E você repensa tudo, resolve dar uma chance para o medo. Resolve se dar uma nova chance.

domingo, 17 de agosto de 2014

Refúgios

Sou forte demais para me entregar e fraca demais para suportar alguns fardos sem derramar um punhado de lágrimas.
De vez em quando preciso chorar em algum canto. Extravasar o que aperta e faz sangrar. Não dá pra guardar tudo no seu (suposto) devido lugar e fingir que a vida é cena bonita de filme.
Nunca pensei em desistir, mas às vezes bate um desânimo. A dor me consome e o cansaço me desgasta. Procuro achar saídas, mas parece que ando em círculos. Percebo que as coisas trocam de lugar, porém nunca se resolvem de forma definitiva. Fico me perguntando o que faço de errado, tento trocar as formas de agir e lidar com as situações. Quando penso que algo está entrando nos eixos tenho uma surpresa desagradável.
Já cheguei a cogitar inúmeras hipóteses, mas nunca chego a uma conclusão definitiva. Sei que nesta vida temos nossos carmas, cruzes, resgates e aprendizados. Tento fazer o que posso e aproveitar cada lição que me é ofertada, mas não sou perfeita e nem sempre tenho a fé necessária para acreditar. E eu sei (eu sei!) que preciso acreditar. 

Só que às vezes dói tanto, às vezes a aflição é tão grande e me domina de uma tal forma que não sei se vou suportar.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Incertezas

Já faz algum tempo que não sei mais o que fazer. São muitos desajustes que borbulham aqui dentro. No peito, um tremor que só assusta e atormenta. Na cabeça, inúmeras sensações fazem coro, peso e devastam tudo que passa pela frente, me deixando sem saída.
As preocupações batem incisivamente na porta, em busca de respostas. Reviro o baú de informações, não encontro nada que justifique esse caos interno.
Viver se torna a cada dia mais inquietante. Momentos de paz e tranquilidade são quase uma raridade. O medo me sufoca, os devaneios se acumulam, as dúvidas não me deixam dormir serena.
Sinto saudade, estranheza, necessidade de me ter de volta. Sinto dor por estar presa nessa teia maligna. Sinto desespero por estar em um labirinto escuro, sem ninguém para me pegar no colo e dizer fica calma, isso vai passar. Isso não passa. Isso vai e volta. Isso muda de cara, de nome, de força. Isso cresce e se transforma. Mas isso nunca me deixa. Então eu reúno meus pedacinhos, que já estão cansados dessa luta diária e sem fim, e continuo a caminhada. Porque sei que isso vai passar, afinal, me ensinaram que tudo na vida passa.

(Espero que seja logo.)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os outros

Às vezes, ser podia não pesar. Podia não ofender. Podia não renegar. Às vezes o espelho podia sorrir. Podia não assombrar.
Diante de algumas vozes da vida, a pessoa interior grita. O passarinho preso na gaiola da alma pede pra bater asas em outro peito, em outro campo. Outra morada.
Do que adianta ser quem se é, se ser quem se é não agrada? Mas do que adianta ser quem não se é, se ser quem querem que sejamos não basta?
Durante toda a minha vida lutei para agradar e ter uma imagem que causasse afagos, não embargos. Não adiantou. Nunca consegui ser quem gostariam que eu fosse. Nunca agradei sendo isso que gostariam que eu fosse.
Depois de dolorosos processos de aceitação, percebi que o problema não está em ser quem sou, mas sim nas pessoas que me veem como eu não sou. Não adianta me vestir de verde, porque a maioria me prefere assim. Se eu gosto do amarelo, do azul, do rosa ou do incolor, é assim que minhas cores devem exalar.
A gente tem disso, de por medo de ser diferente, aceitar ser igual. Aceitar ser moldado. Aceitar modelar. Aceitar caber dentro dos padrões. Dos tamanhos p’s. Dos discursos.
Todos temos qualidades. Alguns escrevem, outros cantam, outros riem, outros fingem, outros dançam, outros fazem dançar. Alguns ainda pintam, outros rabiscam, alguns desenham, outros grafitam. O que me faz diferente dos outros bilhões de pessoas no mundo são os meus defeitos.
Porque ninguém tem o meu péssimo humor matinal. Ninguém rói unha como eu. Ninguém desgosta de comer cebola e abóbora. Ninguém prefere dormir no escuro e odeia barulho. Ninguém tem as minhas manias. Ninguém tem as minhas vontades. Ninguém, além de mim, sou eu.
Às vezes, ser podia não pesar (para os outros). Podia não ofender (os outros). Podia não renegar (para os outros). Às vezes o espelho podia sorrir (para os outros). Podia não assombrar (os outros).
Mas do que adianta ser quem não se é, se ser quem querem que sejamos não basta? Do que adianta ser quem se é, se ser quem se é não agrada? Do que adianta abaixar a cabeça, se minha vontade é gritar?
Que me desculpem os outros, mas eu sou por mim. Já passei da fase de me perder por ai, achando que ser quem queria que eu fosse era o único jeito de ser possível. Ninguém, além de mim, sou eu. E por mais que pra muita gente isso não signifique nada, pra mim, vale tudo.

(Matheus Rocha)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Casualisando o amor

Eu estava cansada, era isso. Cansada de todas as expectativas que havia me forçado a criar. Cansada de desperdiçar minhas noites de sono, meus dias livres, minhas manhãs de calmaria, minhas tardes de poucos embalos e até os embalos de sábado à noite, com quem não queria ficar. Com quem não merecia estar.
Há uns tempos venho me perguntando se eu que desacreditei no amor ou se só tenho um jeito diferente de ver tudo isso. Não consigo entender carências que se juntam sem sentimento, não consigo entender o "eu te amo" no dia seguinte ao que a gente se conheceu. Não consigo dizer que não posso viver sem você, se eu já vivi até aqui, sem você.
Esse mundo segue tão louco. Nossos dias cada vez mais cheios. Nossas mentes sempre sobrecarregadas de tantas preocupações, trabalhos, estudos, e ainda assim queremos outra pessoa para se preocupar. Pra ajudar a dividir os pesos. Pra viver no singular, de forma plural.
Talvez um dos meus maiores defeitos seja analisar as situações antes de tomar o primeiro passo. Talvez um dos meus piores gestos seja esperar pra saber até onde o outro é capaz de ir sem mim, pra só depois ir atrás. 

É que já quebrei a cara tentando agir sem pensar, deixando me embebedar por conversas doces, por carinhos, por afagos, por pessoas que, sei lá, queriam só brincar. Ou como elas mesmas disseram: “não estavam na mesma sintonia”.
Sei que alguns não levam essa história de sentimento tão a sério. Conheço gente que acha que beijo é coisa à toa, que namoro e ex-namorado não se marcam no currículo. Gente que talvez seja muito mais feliz que eu, mas, que, talvez não tenha construído nada tão sólido. Nada que dure mais que três meses ou um presente caro no dia dos namorados cujas parcelas vão durar mais que o "amor".
Tenho medo de quem tem medo de ficar sozinho. Tenho medo de quem não sabe conviver com um período longo sem ter alguém pra chamar de seu. Essas pessoas embarcam sempre em relacionamentos frustrados, frustrando os outros com suas próprias frustrações. Gente que não sabe muito bem conviver consigo, nem outro alguém. Gente que só pra não dormir sozinho, inventa um amor eterno por semana e dorme de conchinha até com desconhecido.
Acho que meu problema é não saber bem definir essa coisa que chamam de “casual”. Não sei viver de casos. Não sei nem contar meus casos, imagina lá, viver alguns. Reconheço que nem sempre meus beijos precisam carregar paixão. Sei que, às vezes, beijar por beijar é até aceitável, essencial, mas, namoro sem amor, pra mim, é como coca-cola quente. Desce queimando e só melhora com gelo.
Talvez eu tenha desacreditado no amor, ou talvez só tenha passado a vê-lo de uma outra forma. A verdade é que eu estava cansada, era isso. Cansada de todas as expectativas que havia me forçado a criar. Cansada de algumas formas de amor. Cansada da casualidade que era isso. Ou talvez falte só alguém capaz de domar esse meu coração selvagem e me mostrar que tudo que eu aprendi até hoje sobre sentimentos, estava errado. Talvez, eu também estivesse certa ou só parcialmente errada. 

Quem é alguém para apontar os meus defeitos, quem sou eu para apontar o amor de alguém?

Matheus Rocha

domingo, 20 de julho de 2014

(Con)juntos

Muito se teoriza sobre o amor, e talvez ainda centenas de milhares de pessoas filosofem sobre a causa, mas o amor não é algo que possa ser definido. Óbvio. Ninguém sente da mesma forma, partindo disso, ninguém consegue generalizar. Ninguém consegue padronizar. Inserir num gráfico. Num cálculo matemático. Mas a gente sempre pode tentar.
Antes de falar em amor, é preciso voltar ao passado. Ao nascimento de cada um de nós. Nossas experiências e repertórios. Aquele conjunto de vivências que vão se somando a nossa essência, e como num castelo de cartas nos faz crescer, evoluir.
Todos somos marcados e cercados por primeiras vezes. A primeira queda, o primeiro dente arrancado, o primeiro amor, a primeira paixão, a primeira relação sexual, a primeira decepção, o primeiro amor platônico, o primeiro fora, a primeira declaração.
Todas as primeiras vezes são importantes e aposto que ao ler, sua mente foi tentando se recordar de cada uma dessas vezes. Se é que não lembra automaticamente de todas. Por isso, elas podem ser decisivas para as segundas, terceiras e Deus sabe lá quantas mais teremos.
Na verdade, todas as experiências que tivermos, serão importantes para nossa formação como ser humano. As negativas, principalmente. Elas deixam marcas, nos limitam, nos dão medo, às vezes coragem, para conseguir amadurecer e saber como agir em outras determinadas circunstâncias.
Do ponto de vista biológico, uma vacina traz em sua composição parte do mal causador. Ou seja, até o soro, precisa do veneno. Ninguém vai conseguir ser plenamente feliz, se é que alguém consiga alcançar tal estagio de evolução, sem ter dias ruins. Sem dormir chorando de ver em quando, ou, sem ter, sei lá, decepções.
Todas as relações que você tiver, desde envolvimentos sentimentais carnais e ardentes, até trocas de respeito e cumplicidade, como simples e singelas amizades, servirão de bagagem para novas relações, ou para as próprias.
Cada pessoa que entra na sua vida possui um conjunto, numa visão matemática das relações. Um repertório de vivências e experiências. E todas, sem dúvidas, todas, serão diferentes das tuas. Porque até mesmo aquelas que você partilhou, foram percebidas e sentidas, de formas diferentes. Ninguém vê ou sente o mundo da mesma forma. Somos todos seres humanos únicos, ainda que gêmeos fisicamente, em alguns casos.
Seguindo uma linha de raciocínio, nossos encontros são formados por intersecções. Quando um conjunto se une ao outro, dando aquela área que a gente aprendeu no começo da escola, como “comum”. Quando a minha bagagem se une a tua, e dividimos os pesos de ambas.
Depois de colocarmos claras as coisas, depois de entendermos que cada um possui uma criação diferente, passou por etapas diferentes de formação, e sendo assim, é sentimentalmente diferente, podemos entender um pouco mais de todas as relações (conjuntos) que estamos contidos.
É loucura imaginar que alguém possa te amar menos. É viagem da sua cabeça imaginar que você ame mais alguém. Amar não é como porcentagem. Ninguém te ama 10%, outro 30, 80, 100. Ou ama, ou não ama. Ou gosta, ou desgosta. Não existe gostar um pouquinho, ou um caminhão cheio.
O que existe, na verdade, são formas diferentes de sentir e demonstrar sentimentos. Alguns necessitam mostrar em outdoors e declarações exageradas. Outros preferem um vinho e uma massa. Vão existir aqueles que mesmo com um dedo apontado na cara e um grito de EU TE AMO!, não vão conseguir enxergar. Somos sentimentalmente diferentes. Possuímos maturidades sentimentais divergentes.
Então, antes de julgar o que se passa na sua cabeça, ou das pessoas, pare e pense que nem tudo é o que parece. Nem tudo é falta de amor ou traição. Antes de dividir o presente com alguém, todos nós já tivemos passados. E isso não significa somente ex-namorados. Significa relações desenvolvidas antes. Uma vida. E tantas outras que serão constituídas durante e depois.
Por fim, amor é o dia a dia. Amar é a forma como você passa as horas. Amor é ouvir uma música e lembrar de alguém. Mas aprenda também, que só lembrar não basta. Perdemos as pessoas por falta de palavras. Não adianta só sentir, isso só não basta. É preciso, muitas vezes, dizer que sente, ou pelo menos, demonstrar do seu jeito. Se fazer ser entendido.
Amar sozinho, a gente ama o espelho. Se escolhemos alguém com quem queremos dividir momentos, sejam positivos ou negativos, devemos usar os gestos, as palavras, as artimanhas e qualquer outras ferramentas, que diga, assim, mesmo que nas entrelinhas: Ei, psiu, eu te amo. Eu gosto de você.
Temos muito pouco tempo, às vezes, pra dizer tudo que queremos. Todos os momentos são raros, só pelo simples motivo que você já sabe: eles não voltam.

sábado, 28 de junho de 2014

Você sabe amar?

Você sabe amar?
Eu estou aprendendo.... Estou aprendendo a aceitar as pessoas, mesmo quando elas me desapontam, quando fogem do ideal que tenho para elas, quando me ferem com palavras ásperas ou ações impensadas.
É difícil aceitar as pessoas assim como elas são, não como eu desejo que elas sejam.
É difícil, muito difícil, mas estou aprendendo. Estou aprendendo a amar.
Estou aprendendo a escutar, escutar com os olhos e ouvidos, escutar com a alma e com todos os sentidos. Escutar o que diz o coração, o que dizem os ombros caídos, os olhos, as mãos irrequietas. Escutar a mensagem que se esconde por entre as palavras corriqueiras, superficiais; Descobrir a angústia disfarçada, a insegurança mascarada, a solidão encoberta. Penetrar o sorriso fingido, a alegria simulada, a vangloria exagerada. Descobrir a dor de cada coração.
Aos poucos, estou aprendendo a amar. Estou aprendendo a perdoar.
Pois o amor perdoa, lança fora as mágoas, e apaga as cicatrizes que a incompreensão e insensibilidade gravaram no coração ferido. O amor não alimenta mágoas com pensamentos dolorosos. Não cultiva ofensas com lástimas e autocomiseração.
O amor perdoa, esquece, extingue todos os traços de dor no coração.
Passo a passo, estou aprendendo a perdoar, a amar.
Estou aprendendo a descobrir o valor que se encontra dentro de cada vida, de todas as vidas. Valor soterrado pela rejeição, pela falta de compreensão, carinho e aceitação, pelas experiências duras vividas ao longo dos anos.
Estou aprendendo a ver, nas pessoas a sua alma e as possibilidades que Deus lhes deu. Estou aprendendo. Mas como é lenta a aprendizagem!
Como, é difícil amar, amar como Cristo amou!
Todavia, tropeçando, errando, estou aprendendo... Aprendendo a pôr de lado as minhas próprias dores, meus interesses, minha ambição, meu orgulho quando estes impedem o bem-estar e a felicidade de alguém!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Felicidade

"Procuramos instintivamente, todos os dias, do nascer ao pôr do sol, por aquilo que nem sabemos direito o que é. Nos ensinam em casa, na escola, nas aulas de educação física, química, nas aulas da vida, que devemos viver em busca da felicidade, mesmo sem saber direito que rosto ela tem, por que nome atende, se fica depois do arco-íris ou se mora embaixo da cama junto com o bicho-papão.
Enfiam nas nossas goelas abaixo, por todas vinte e quatro eternas horas dos dias, desejos e sonhos de consumo, amores perfeitos, vidas como contos de fada e músicas para enganar o estômago. Sempre jeitos novos de dizer a mesma coisa: busque a felicidade.
Talvez fosse muito mais fácil viver com o texto todo ensaiado, sabendo direitinho o que dizer, onde estar, com quem, como, quando e por que. Uma vida roteirizada, uma trama bem feita, bem escrita, com uma trilha sonora incrível. Sabendo que choraríamos quando fosse preciso emoção, e sorriríamos escancaradamente quando as dores passassem. Uma vida novela das oito, que começa as nove, e dura Deus sabe lá quanto tempo.
Se a vida fosse programada, já nasceríamos sabendo quem amar, se viveríamos sempre na mesma cidade, se teríamos filhos, se nosso primeiro beijo seria aos 15, 16, 17, 35, ou até mais cedo. Saberíamos também que o primeiro amor partiria nosso coração em mil pedaços, e os demais transformariam ele até o final das nossas vidas numa partícula ainda menor que o átomo.
Desconfio que a melhor parte da vida de uma pessoa, são as surpresas que aparecem no caminho. Um olhar, um gesto, um sorriso novo. Coisas pequenas que atravessam os nossos destinos todos os dias, para dizer que nossa vida pode seguir por um caminho diferente. Alguma coisa que mostre que ir em frente é uma obrigação pessoal e intransferível.
Suponho quase que intimamente, que todas as dificuldades que a vida nos impõe são só provas de resistência, testes e ensinamentos para que possamos lidar bem com a gente mesmo e com tudo de melhor que ela nos preparou.
Nesse processo de transformação diária, a maior luta que podemos travar é pra tentar assimilar as imposições do destino e, de alguma forma, manter a alma pura, limpa, ou algo que se aproxime muito da nossa essência. Coisa que volta e meia pensamos em deixar de lado para conseguir (sobre)viver.
Então, meu amigo, confesso que tenho tentado nos dias que se seguem, fazer de tudo para me tornar melhor e mais feliz do que sou, mesmo sem saber direito o que isso significa. Tenho entendido que procuro instintivamente, todos os dias, do nascer ao pôr do sol, por aquilo que nem sei direito o que é, mas que com certeza irei encontrar.
Ai de mim se não fossem as minhas insatisfações e nós na garganta. Ai de mim se não existissem noites mal dormidas, angústias e sonhos. Uma vida hermeticamente perfeita não me traria os desafios que preciso para evoluir, para crescer. Para me tornar o que eu sempre sonhei em ser.
Quanto à felicidade, essa que não me ensinaram a buscar e me tornaram por missão encontrar, avisa que posso demorar um pouco, mas vou chegar. Pede já pra esperar com a mesa posta e algo pra beber. Estou indo com fome e sede ao pote. Quero me fartar de tudo que ela possa me oferecer. Você, se estiver disposto a longas jornadas, pode até me acompanhar. Se não, a gente se vê quando eu chegar. "
 (Matheus Rocha)

sábado, 3 de maio de 2014

Ame

Ame o amor do desapego. 
O amor da liberdade. 
Não o amor de grades enferrujadas, do calabouço do ego. 
Não o amor da insegurança, da vingança cega. 
Ame o amor que confía, que acredita no impossível, que transforma. 
Não o amor que aprisiona, que destrói. 
Ame o amor sem tempo para acabar, sem hora de chegar. 
Não o amor formatado, o amor enlatado, desses que se vende a qualquer um. 
Ame o amor da plenitude, da poesia. 
Não o amor com roteiros, esse de falsa alegria. 
Ame o amor que permite o perdão, que consente o erro e o acerto. 
Não o amor perfeito. 
Não existe amor perfeito. 
Não existe perfeição. 
Ame o que se pode amar, o que se pode ser... 
Não a ilusão descabida, cheia de floreios falsos. 
Ame quem se pode viver de verdade. 
Não o que se faz por cobrança ou obrigação. 
Ame o amor sincero,entregue com virtudes e defeitos. 
Não o amor do castelo, das histórias mentirosas de amor. 
Apenas ame, se for capaz... 
Se não for... não é amor... 
é falsa paz.

segunda-feira, 31 de março de 2014

O escuro

Meu primeiro desejo ao escrever isso, é que fosse possível ler de olhos fechados. Porque no escuro tudo é mais belo. Diante das sombras das poucas luzes, todas as formas são perfeitas. As imperfeições moram nos clarões, nas lentes de aumento, nos espelhos dos quartos.
Não sei como você se sente morando dentro de si. É confortável? Consegue se sentir abraçado pelo próprio corpo? Consegue ver seu reflexo e sorrir?
Queria entender porque, às vezes, é tão difícil caber dentro de si. Em dias, principalmente noites, o meu maior desejo era sumir. Desaparecer do mapa sem deixar vestígios, sem deixar rastros, sem ficar nas memórias, simplesmente, como lâmpada velha, apagar.
Não, ao contrário do que possa parecer, meu desejo nem de longe passa perto da morte. Ainda tenho planos para quando mais essa crise de meia idade, de adolescente rebelde, de criança na puberdade, de nova jovem velha adulta passar.
Mas é que às vezes, eu só queria sumir. Apagar tudo. Desligar o celular, excluir os perfis da internet, pedir demissão do emprego, largar de mão os estudos. Correr por ai sem destino. Me perder nas águas do mar. Me afogar na areia da praia.
Quando o mundo parece confuso demais, quando minha cabeça gira mais que todos os movimentos da terra, quando meus olhos já secaram de tanto chorar, quando mais nenhum lugar do mundo é capaz de me abraçar, o único, o pleno, o reino, a paz, eu só consigo encontrar em um, um único lugar. O escuro.
No escuro. Porque nele tudo é belo. Diante das sombras das poucas luzes, todas as formas são perfeitas. As imperfeições moram nos clarões, nas lentes de aumento, nos espelhos dos quartos. Moram nas formas estranhas do meu corpo. No meu corte de cabelo mal feito. Nos desejos que eu não realizei. Nos sonhos que meus braços não foram capazes de alcançar.
Não existe beleza, não existe feiura, não existem deformações, não existem defeitos, não existe malfeito, o gordo, o magro, não existe o não. No escuro tudo é sim. No escuro, tudo é vitruviano. No escuro, somos nós, sem medo. Sem olhares, principalmente os nossos.
Volta e meia me pergunto por que precisei nascer tão ser humano, a ponto de ser insatisfeita. Tento não olhar ao redor para não sentir vergonha. Vergonha da minha pequenez. Do pouco peso dos meus problemas. Da falta de relevância das minhas lágrimas.
Dentre sete bilhões de pessoas, os meus problemas soam poeira. Dessas que a gente varre para debaixo do tapete. Existe a fome, a miséria, a violência. Existem as doenças incuráveis. E eu, justo eu, talvez uma das mais abençoadas e abastadas seres, aqui, em prantos, por miudezas.
Nenhum mundo é tão gigante quanto o próprio, frente aos nossos umbigos. Porque as mazelas alheias comovem, mas só as nossas ferem. Porque as lágrimas alheias incomodam, mas só as nossas ardem. Porque as feridas e cicatrizes alheias, causam remorsos, mas só as nossas, só os pisões nos nossos próprios calos, realmente, de fato, causam dores.
Talvez seja hipocrisia demais culpar a sociedade pelo bullying da existência. Por me inserir em padrões que eu não posso atender. Talvez eu ainda pudesse culpar a minha educação, ou os meus gostos, por nem de longe serem tão parecidos com a minha realidade. Mas no fim, viver é só uma questão de ajustar os ponteiros do relógio consigo mesmo.
Eu e meus traumas. Eu e meus bloqueios. Eu e as minhas fúteis, porém intransponíveis, barreiras. Não importa muito quanto o mundo te diga que você tem um sorriso lindo, com olhos brilhantes. No fim das contas, se você não enxergar isso no reflexo do espelho, terminará como eu, em dias como hoje: fazendo apologia ao escuro.
Que sejamos capazes de acordar amanhã e sorrir da noite que passou. Porque, no fim das contas, tudo, absolutamente tudo, passa. Restam só as memórias, as marcas, os risos de quanto fomos burros, e ah, aquela coisa que as pessoas acham tão importante: a experiência. Ainda que negativa. Ainda que encharque o meu travesseiro de lágrimas.
Por hoje, eu só quero que as horas passem e levem com ela essa inconstância. Essa incabência de mim, dentro do meu corpo.


Obs: amanhã, chegue logo! Por hoje, já deu.
Matheus Rocha

domingo, 23 de março de 2014

Será?

Faço parte daquela porcentagem da população que é insatisfeita. 
Daquela que acorda com o pé esquerdo, que dorme mal, que têm insônia ou um tantinho de consciência pesada pelo que ainda não fez.
Faço parte daquela porcentagem da população que é insatisfeita, não só por ser, mas por querer mudar sempre, ou buscar evoluir. Não sei me contentar com o que já tenho. Não sei me dar satisfeita por tudo que já conquistei.
Sou, sem sombra de dúvidas, um tanto enorme diferente das outras pessoas. Não consigo me calar. Não consigo não pensar. Não consigo esquecer. Não consigo enterrar o passado. Não consigo fingir que não sou ser humano, ou ter sangue de barata.
Às vezes eu deito com o vento batendo na cara, e me pergunto qual foi a última vez que eu fiz um nada, com gosto. A última vez que eu fui ao cinema, mais pelo filme, do que por alguém. A última vez que ouvi a discografia inteira daquele artista que tanto acalma meu coração.
A gente vai vivendo de um jeito torto, feio, monótono, chato e chama isso de rotina. Como se a nossa vida só pudesse ser aquilo. Como se nada pudesse mudar. Como se nossos passos não dependessem das nossas pernas. Será?
O ser humano é um acomodado em potencial. Se acostuma com tudo. Tudo que exige esforço, ah, melhor deixar pra lá. Não consigo chamar sobrevivência, de vida. Sobreviver é isso que eu faço todos os dias, apesar do que pesa. Viver, é o que eu faço quando meu coração acelera, quando meus olhos brilham, ou meu sorriso ri um riso canto de boca.
Volta e meia fico mergulhando em mim, ou me lançando anzóis pra ver se pesco um eu diferente. Melhor, talvez. Na verdade, a gente nunca sabe se o que é, é realmente o melhor que a gente pode ser, mas não dá pra apagar e fazer de novo. Tudo que a gente é capaz de fazer, é se insatisfazer e seguir daqui pra diante, mudando um pouco, transformando tudo.

Quem sou eu?

É que eu nunca me adaptei bem aos papeis que a vida me deu. 
Nunca consegui me encaixar em nenhum dos personagens que já criaram de mim. As pessoas têm isso, de supor em cima da gente. De darem asas as suas imaginações, achando que a gente tem obrigação de ser como eles sonharam.
Talvez eu nunca tenha sabido ser aquela criatura meio que perfeita, aparentemente sem defeitos, ou aquela boneca torta, com remendos à mostra, que já inventaram de mim. Não gosto dessas coisas que insistem em me definir, me limitar, me abrigar ao abrigo da métrica, da rima. Sou filha dos parágrafos, não dos versos.
Me veem como gostariam que eu fosse. Encenam-me peças, protagonizam-me novelas, escrevem-me contos de ‘eus’ que nem eu já ouvi dizer. Chega a ser frustrante quando esses seres de mim se chocam, vez ou outra, em mundos opostos. Dói ver criador e criatura digladiando-se rumo ao fim.
Nunca me dei bem sendo essas coisas que criaram de mim. Todas as vezes que me tentei fugir, acabei por cair completamente em mim. Provando-me para mim mesmo, que sem ser o que eu realmente sou, não posso dar um passo sem desabar.
Digo e repito, é preciso ser dono de uma coragem sem fim para se mostrar quem é. Do tipo doa a quem doer. Agrade a quem agradar. Ame-o, ou deixo-o. Nem todos amam os seres que somos. Distantes das máscaras e fantasias que vestem de nós diante dos próprios olhos, quem somos nós?
É mais fácil se enganar, e viver dentro de uma linha de conforto, do quê enfrentar a realidade. Nem todos somos tão bons quanto aparentamos. Nem tão rudes, ou doces, ou falsos, ou ainda reais. Nascemos sempre com uma banda podre. Uma parte que vez ou outra (in)felizmente se mostra e te puxa pro seu lado ser humano.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Alguém que não desistiria...

Só hoje, depois de toda uma vida regada a desistências, resolvi assumir: eu sempre gostei do impossível, porque isso justificava a minha covardia. Sim, sou uma covarde. Uma covarde do amor. Eu, simplesmente, tenho medo disso. Disso de me apaixonar.
Desde muito cedo, entendi que o amor não era pra mim. Percebi que sim, ele existia. Ele era lindo, até demais para o meu gosto. Mas também era muita areia para o meu coraçãozinho. Por isso, acabava sempre indo embora.
A verdade é que eu nunca fui capaz de me entregar verdadeiramente, por medo. Medo não, pavor. Pânico. Eu, durante todas as histórias que entraram na minha, nunca tive coragem de ficar. Sempre me envolvi até um determinado ponto. O ponto que era hermeticamente seguro para não amar de volta.
É, quando o coração acelerava, quando as mãos suavam, eu corria. Mas corria como quem tem gana de ganhar uma maratona. Como uma sedento por água no deserto, corre em busca de uma miragem. Eu, simplesmente, nunca me sentia segura para gostar de volta.
O medo de confiar e quebrar a cara, é só uma característica de um coração que já amou demais e hoje, ah, hoje ele luta para conseguir sobreviver com o que restou. Tentando não perder mais partes fundamentais de si mesmo.
Depois de mergulhar em mim, percebi que todos os meus amores platônicos vieram da minha falta de segurança. Eu nunca tive coragem suficiente para deixar que gostassem de mim. Eu sempre dei motivos para que fossem embora. Eu sempre procurei a desculpa esfarrapada perfeita, para, como é que eu posso dizer... Fugir.
Engraçado. Mesmo fujona, eu sempre quis que alguém fosse capaz de aparecer e mudar tudo, sabe? Alguém que mesmo percebendo que eu estava morrendo de medo e dando todas as desculpas para não gostar de volta, quisesse ficar. Alguém que não desistiria de mim, não importava quantas vezes eu mesmo fosse desistir.

Hoje não seria piada. Eu realmente queria um abraço, mas não qualquer um. O seu. A verdade é que depois de tanto fugir, os meus pés cansados resolveram deixar de ouvir meus pensamentos. Agora eles é que disseram que não dariam mais nem um passo.
A gente sabe, os amigos insistem em dizer que a vida é pra quem tem coragem. Meus discursos são repletos disso. Mas, eu garanto que fazer o que eu digo, é infinitamente mais fácil e seguro, do que fazer as loucuras que eu faço. Eu sei que só é feliz, quem não tem medo de ser triste. Mas meu coração resvala.
No fim, todo o meu ciúme sempre foi uma forma de defesa. Eu sempre senti que seria trocado a cada nascer do sol. E ao enoitecer, eu estaria ali, de novo, sozinha. Chorando. Sem colo.
Me disseram uma vez que eu mereço ser feliz. Me disseram, que eu, mais do que ninguém, também merecia isso de estar completa, de ter uma mão para segurar. Me disseram ainda, que não importasse o futuro, ou até mesmo passado, que o presente seria de fato um. Acredite, o espelho quem disse.
Chegou a hora de me enfrentar, e, como é mesmo que dizem por ai?! Por falta de prática acho que até esqueci: ser feliz,

 Matheus Rocha

É preciso espaço para o tempo

Você não sabe quanto tempo eu esperei esse sorriso.
Quanto tempo eu fiquei olhando pros outros casais imaginando quando chegaria a minha hora. Noite, manhã, tarde. Fiquei pensando no que faria, no que falaria. No final das contas, sobrava solidão. Me frustrei, sabia? Porque colocava muita pressão em pessoas que não podiam me dar o que eu queria.
E eu queria construir. Não sei se um castelo, um palácio ou só uma palafita. Um barraco, talvez, mas queria. Nem que minha casa fosse os braços do outro e a gente se beijasse na chuva, considerando ser uma goteira. Tudo bem.
Só queria onde descansar. E estou falando de colo, não de colchão.
Resolvi dar tempo. Só que ninguém sabe o tanto que é preciso dar de espaço pro amor e tempo para o próprio tempo. Ninguém sabe mesmo. Digo mais: não adianta dizer que “tudo vai dar certo”. Corta essa. As coisas dão certo por um tempo, depois degringolam. É normal. Aí, ficam um tempo dando errado, mas voltam pro lugar. É um ciclo. São as águas que se remexem e depois se acalmam.
Até que um dia – eita expressão que gosto! – alguma coisa acontece no coração.
Você vê alguém cruzando a rua, vê entrando no elevador, pedindo um lanche, correndo em na rua ou simplesmente sorrindo quando cruza com você, e há um estalo. Fica aquele barulhinho na cabeça remoendo o encontro como a seta de um carro fazendo “plec plec plec”. Logo esse som se mistura às batidas do coração, vira confusão e tudo que (não) se quer é se declarar e saber a resposta. Vai que dá certo.
Vez ou outra, uma em milhão (dizem especialistas), dá. Pode abrir o sorriso com calma.
Depois de tudo percorrido, pra não dizer sofrido, pode-se voltar a escancarar os dentes sem medo ou culpa. Faz-se isso apenas para juntar a boca na outra no simples prazer do beijo, antes tão proibido. Você não faz ideia do quanto eu esperei pra soltar esse sorriso, antes tão amarrado.
Você não faz ideia do quanto esperei pra poder ser amada.


(Lacombe)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Segunda

Segunda, tudo de novo.
O fim de semana foi tão curto que mal deu tempo de curtir, imagina descansar. Meu corpo mesmo parece que me autossabota e, nos dias que posso dormir até mais tarde, me faz acordar cedo. Lembro da minha mãe gritando no meu ouvido quando era pequena. “Menina, acorda! O dia tá lindo! Sai dessa cama!”.
Não, mãe. Eu quero dormir.
Não adianta sair cedo de casa pra ir pro trabalho/faculdade. O ônibus já estará lotado e sem chance alguma de sentar e cair no sono de novo. Se der sorte, arrumo um canto para recostar. No final, acabo em pé pensando na rotina do trabalho, relatório, pessoas me enchendo, prova, texto pra ler e outras coisas.
Novamente a espera.
Entro na segunda, mas queria acordar na sexta. Paciência. É preciso viver toda a rotina da semana torcendo para que os desejos de que ela seja ótima se realizem. E, na verdade, é como um truque do calendário, que se renova só pra te dar a sensação de que se pode fazer tudo novo. Uma semana inteirinha de presente para repensar ações, planejar a vida e, principalmente, vivê-la.
Que falem mal do primeiro dia (me recuso a aceitar que o começo é no domingo), mas ele estará lá de pé para te receber e tentar te fazer acreditar que, sim, o “diferente” está rondando você. Ficar reclamando, na melhor das hipóteses, pode mostrar o que te incomoda. Só que ficar de braços cruzados e pernas imóveis não vai te levar a lugar algum.
E se todo dia há uma chance de fazer algo de bom por você, aproveite. Você tem mais sete só nessa semana! Segunda, tudo de novo.

Destino

Nós vamos ter dois filhos, não os três que você queria. Vamos casar antes do trinta e ficar juntos até bem velhinhos. Vamos ter uma casa no campo pra eu ter o meu jardim e uma na cidade, pra você não largar toda essa agitação. Teremos de tudo um pouco, faltará alguma coisa às vezes, mas teremos a felicidade da nossa casa. Seremos um casal normal. Perfeição nunca foi nosso forte.
Nós vamos viajar por onde sempre sonhamos, mas o mais importante é que vamos sempre nos sentir em casa nos braços um do outro. Vamos visitar seus pais, seus parentes, nos acostumar com as piadinhas, e eles vão aprender, pouco a pouco, que entre nós é o amor mais forte que existe.
Adorarei sempre te olhar dormindo, mas melhor ainda vai ser ter seu sorriso quando acordar e me ver.
Não seremos escravos de nada, mas livres nesse amor. Poderemos ir e voltar quando quisermos, mas saber que pertencemos um ao outro sempre nos fará voltar pra casa com uma saudade enorme. Brigaremos, teremos ciúmes, discutiremos por bobagens. Mas depois vamos fazer as pazes com um amor mais que gostoso.
Veremos filmes até de madrugada, eu vou chorar, você vai rir. Vou ter que aguentar seu futebol, mas até que vou gostar de torcer com você.
Sua mãe vai implicar um pouco, mas quando notar que eu só quero te fazer feliz, sossegará.
Você vai sempre poder olhar aquela moldura com nosso retrato, outra com nossos filhos, ou até uma minha, sozinha, com aquele barrigão esperando um dos meninos, e rir. Ou chorar. Ou agradecer. Ou tudo ao mesmo tempo.
E eu sonhei isso. Não planejei nada, porque faltou falar contigo. Mas agora, já te contei. Não precisa dar uma resposta logo, mas também sei que nos seus sonhos você já viu algo parecido. Olha, escrevendo demora muito, mas pra mim, bastou piscar e já vi tudo acontecer.

Meu destino taí, cruzado com o seu.

Vem?
(G. Lacombe)

Um dia

Um dia você vai encontrar alguém que te lembre todos os dias que a vida é feita para ser vivida. 
Alguém que é perfeito de tão imperfeito. Alguém que não desista de você por mais que você tente afastá-lo. Naquele dia que você não estiver procurando por ninguém, naquele dia que você não ia sair de casa e acabou colocando a primeira roupa que viu pela frente. Quando você não estiver procurando, você vai achar aquela pessoa que faz você sentir que poderia parar de procurar.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

De manhã



Todas as manhãs peço a Deus que aquele dia que está só começando, seja suficiente para realizar os meus desejos, e para que Ele, me ajude a suprir as minhas reais necessidades. Volta e meia acho que vinte e quatro horas jamais seriam suficientes para tantos quereres. É que eu ainda não sei (e talvez nunca saiba) quais dos meus desejos fazem parte das minhas reais necessidades.

domingo, 12 de janeiro de 2014

2013...

E lá se vai mais um ano... Vencido com vida e saúde, apesar do que pesa, dos altos e baixos. Foi. Vai. Um dos anos mais ímpares de toda a minha vida. Um ano batalhado, repleto de 365 dias recheados de noites em claro, de insônia, de lutas, vitórias, de sonhos acordados.
2013 fez por mim o que nenhum outro ano foi capaz de fazer. Esse foi o ano que eu me tornei EU. O ano que eu consegui ser o que eu sempre quis. O ano que eu fui capaz de me olhar no espelho e me reconhecer. Para muita gente, suponho que essa seja uma tarefa fácil, mas, talvez, outros consigam me entender. Nem sempre a gente se reconhece no reflexo.
A vida nos leva por diversos caminhos. Nos ensina, nos eleva, nos deixa cair, tudo pra testar a nossa capacidade de ir além, a nossa resistência. Esse foi um ano de testes extremos, de provações, de tentações. Foi um ano que os meus limites foram avaliados quase que diariamente. A minha fé, nem se fala.
Mas quer saber? Venci. Mesmo com suor escorrendo dos pesos suportados, mesmo com as mãos um tanto quanto calejadas dos trabalhos feitos, apesar dos pés cansados, VENCI. E olha, sem modéstia alguma, dei o melhor de mim.
Algumas das piores batalhas da vida são travadas dentro da gente, e imperceptíveis aos que veem de fora. É difícil se suportar, é difícil lidar com os pensamentos, vontades, insatisfações, saudades. É difícil filtrar sentimentos. É difícil ser, ser humano.
Esse foi o ano que eu respeitei as minhas vontades, esse foi o ano que eu me permiti. Esse foi o ano que eu aceitei, sobretudo, as minhas imperfeições. Esse foi o ano que eu poderei, que eu repensei, amizades, principalmente. Esse foi o ano que, pela primeira vez na vida, eu aprendi a dizer NÃO. E olha, garanto que esse é um exercício diário, e extremamente difícil de ser realizado.
Aprender a ser egoísta parece fácil, fazemos isso quase que por instinto, mas não pessoas como eu, que até seriam capazes de esquecer-se das próprias lágrimas pra secar as de alguém. Egoistar-se, no melhor sentido da palavra, é saber onde começam e terminam os teus limites. A tua paciência. O teu amor próprio.
2013 fez por mim o que nenhum outro ano foi capaz de fazer. Esse foi o ano que eu me tornei EU. E eu falo isso com um sorrido do tamanho do mundo. Já tentei ser de diversas formas, que, olha, até agradaram muita gente, mas eu não conseguia me sentir satisfeita. De barriga cheia. Sempre acabava sentindo fome, fome de mim. Esse foi o ano que eu fico de pé e me mostro para quem quiser: EI, ESSA AQUI SOU EU, DOA A QUEM DOER, GOSTE QUEM TIVER QUE GOSTAR.
O ano “ame-o ou deixe-o”. Obrigado. Obrigado por todos ensinamentos, marcas, sorrisos, obrigado por todas as pessoas que entraram e saíram da minha vida, obrigado por todas as lições e aprendizados que elas puderam me proporcionar. Obrigado por todos os sorrisos, e lágrimas, e sorrisos-lágrimas. Obrigado, dois mil e treze, por ser inexplicavelmente inesquecível.
Pro ano que está começando, eu só peço que ele seja mais doce. Que os ensinamentos aprendidos no anterior, me deem força para sorrir um riso despretensioso, sincero, largo, destemido e que ele seja constante. Que os que restaram ao meu lado e me deram tanta força, fiquem, fortifiquem-se. Que os que estão ao meu redor, se aconcheguem. Mas que todos nós, sejamos verdadeiramente muito felizes.