quarta-feira, 30 de julho de 2014

Incertezas

Já faz algum tempo que não sei mais o que fazer. São muitos desajustes que borbulham aqui dentro. No peito, um tremor que só assusta e atormenta. Na cabeça, inúmeras sensações fazem coro, peso e devastam tudo que passa pela frente, me deixando sem saída.
As preocupações batem incisivamente na porta, em busca de respostas. Reviro o baú de informações, não encontro nada que justifique esse caos interno.
Viver se torna a cada dia mais inquietante. Momentos de paz e tranquilidade são quase uma raridade. O medo me sufoca, os devaneios se acumulam, as dúvidas não me deixam dormir serena.
Sinto saudade, estranheza, necessidade de me ter de volta. Sinto dor por estar presa nessa teia maligna. Sinto desespero por estar em um labirinto escuro, sem ninguém para me pegar no colo e dizer fica calma, isso vai passar. Isso não passa. Isso vai e volta. Isso muda de cara, de nome, de força. Isso cresce e se transforma. Mas isso nunca me deixa. Então eu reúno meus pedacinhos, que já estão cansados dessa luta diária e sem fim, e continuo a caminhada. Porque sei que isso vai passar, afinal, me ensinaram que tudo na vida passa.

(Espero que seja logo.)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os outros

Às vezes, ser podia não pesar. Podia não ofender. Podia não renegar. Às vezes o espelho podia sorrir. Podia não assombrar.
Diante de algumas vozes da vida, a pessoa interior grita. O passarinho preso na gaiola da alma pede pra bater asas em outro peito, em outro campo. Outra morada.
Do que adianta ser quem se é, se ser quem se é não agrada? Mas do que adianta ser quem não se é, se ser quem querem que sejamos não basta?
Durante toda a minha vida lutei para agradar e ter uma imagem que causasse afagos, não embargos. Não adiantou. Nunca consegui ser quem gostariam que eu fosse. Nunca agradei sendo isso que gostariam que eu fosse.
Depois de dolorosos processos de aceitação, percebi que o problema não está em ser quem sou, mas sim nas pessoas que me veem como eu não sou. Não adianta me vestir de verde, porque a maioria me prefere assim. Se eu gosto do amarelo, do azul, do rosa ou do incolor, é assim que minhas cores devem exalar.
A gente tem disso, de por medo de ser diferente, aceitar ser igual. Aceitar ser moldado. Aceitar modelar. Aceitar caber dentro dos padrões. Dos tamanhos p’s. Dos discursos.
Todos temos qualidades. Alguns escrevem, outros cantam, outros riem, outros fingem, outros dançam, outros fazem dançar. Alguns ainda pintam, outros rabiscam, alguns desenham, outros grafitam. O que me faz diferente dos outros bilhões de pessoas no mundo são os meus defeitos.
Porque ninguém tem o meu péssimo humor matinal. Ninguém rói unha como eu. Ninguém desgosta de comer cebola e abóbora. Ninguém prefere dormir no escuro e odeia barulho. Ninguém tem as minhas manias. Ninguém tem as minhas vontades. Ninguém, além de mim, sou eu.
Às vezes, ser podia não pesar (para os outros). Podia não ofender (os outros). Podia não renegar (para os outros). Às vezes o espelho podia sorrir (para os outros). Podia não assombrar (os outros).
Mas do que adianta ser quem não se é, se ser quem querem que sejamos não basta? Do que adianta ser quem se é, se ser quem se é não agrada? Do que adianta abaixar a cabeça, se minha vontade é gritar?
Que me desculpem os outros, mas eu sou por mim. Já passei da fase de me perder por ai, achando que ser quem queria que eu fosse era o único jeito de ser possível. Ninguém, além de mim, sou eu. E por mais que pra muita gente isso não signifique nada, pra mim, vale tudo.

(Matheus Rocha)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Casualisando o amor

Eu estava cansada, era isso. Cansada de todas as expectativas que havia me forçado a criar. Cansada de desperdiçar minhas noites de sono, meus dias livres, minhas manhãs de calmaria, minhas tardes de poucos embalos e até os embalos de sábado à noite, com quem não queria ficar. Com quem não merecia estar.
Há uns tempos venho me perguntando se eu que desacreditei no amor ou se só tenho um jeito diferente de ver tudo isso. Não consigo entender carências que se juntam sem sentimento, não consigo entender o "eu te amo" no dia seguinte ao que a gente se conheceu. Não consigo dizer que não posso viver sem você, se eu já vivi até aqui, sem você.
Esse mundo segue tão louco. Nossos dias cada vez mais cheios. Nossas mentes sempre sobrecarregadas de tantas preocupações, trabalhos, estudos, e ainda assim queremos outra pessoa para se preocupar. Pra ajudar a dividir os pesos. Pra viver no singular, de forma plural.
Talvez um dos meus maiores defeitos seja analisar as situações antes de tomar o primeiro passo. Talvez um dos meus piores gestos seja esperar pra saber até onde o outro é capaz de ir sem mim, pra só depois ir atrás. 

É que já quebrei a cara tentando agir sem pensar, deixando me embebedar por conversas doces, por carinhos, por afagos, por pessoas que, sei lá, queriam só brincar. Ou como elas mesmas disseram: “não estavam na mesma sintonia”.
Sei que alguns não levam essa história de sentimento tão a sério. Conheço gente que acha que beijo é coisa à toa, que namoro e ex-namorado não se marcam no currículo. Gente que talvez seja muito mais feliz que eu, mas, que, talvez não tenha construído nada tão sólido. Nada que dure mais que três meses ou um presente caro no dia dos namorados cujas parcelas vão durar mais que o "amor".
Tenho medo de quem tem medo de ficar sozinho. Tenho medo de quem não sabe conviver com um período longo sem ter alguém pra chamar de seu. Essas pessoas embarcam sempre em relacionamentos frustrados, frustrando os outros com suas próprias frustrações. Gente que não sabe muito bem conviver consigo, nem outro alguém. Gente que só pra não dormir sozinho, inventa um amor eterno por semana e dorme de conchinha até com desconhecido.
Acho que meu problema é não saber bem definir essa coisa que chamam de “casual”. Não sei viver de casos. Não sei nem contar meus casos, imagina lá, viver alguns. Reconheço que nem sempre meus beijos precisam carregar paixão. Sei que, às vezes, beijar por beijar é até aceitável, essencial, mas, namoro sem amor, pra mim, é como coca-cola quente. Desce queimando e só melhora com gelo.
Talvez eu tenha desacreditado no amor, ou talvez só tenha passado a vê-lo de uma outra forma. A verdade é que eu estava cansada, era isso. Cansada de todas as expectativas que havia me forçado a criar. Cansada de algumas formas de amor. Cansada da casualidade que era isso. Ou talvez falte só alguém capaz de domar esse meu coração selvagem e me mostrar que tudo que eu aprendi até hoje sobre sentimentos, estava errado. Talvez, eu também estivesse certa ou só parcialmente errada. 

Quem é alguém para apontar os meus defeitos, quem sou eu para apontar o amor de alguém?

Matheus Rocha

domingo, 20 de julho de 2014

(Con)juntos

Muito se teoriza sobre o amor, e talvez ainda centenas de milhares de pessoas filosofem sobre a causa, mas o amor não é algo que possa ser definido. Óbvio. Ninguém sente da mesma forma, partindo disso, ninguém consegue generalizar. Ninguém consegue padronizar. Inserir num gráfico. Num cálculo matemático. Mas a gente sempre pode tentar.
Antes de falar em amor, é preciso voltar ao passado. Ao nascimento de cada um de nós. Nossas experiências e repertórios. Aquele conjunto de vivências que vão se somando a nossa essência, e como num castelo de cartas nos faz crescer, evoluir.
Todos somos marcados e cercados por primeiras vezes. A primeira queda, o primeiro dente arrancado, o primeiro amor, a primeira paixão, a primeira relação sexual, a primeira decepção, o primeiro amor platônico, o primeiro fora, a primeira declaração.
Todas as primeiras vezes são importantes e aposto que ao ler, sua mente foi tentando se recordar de cada uma dessas vezes. Se é que não lembra automaticamente de todas. Por isso, elas podem ser decisivas para as segundas, terceiras e Deus sabe lá quantas mais teremos.
Na verdade, todas as experiências que tivermos, serão importantes para nossa formação como ser humano. As negativas, principalmente. Elas deixam marcas, nos limitam, nos dão medo, às vezes coragem, para conseguir amadurecer e saber como agir em outras determinadas circunstâncias.
Do ponto de vista biológico, uma vacina traz em sua composição parte do mal causador. Ou seja, até o soro, precisa do veneno. Ninguém vai conseguir ser plenamente feliz, se é que alguém consiga alcançar tal estagio de evolução, sem ter dias ruins. Sem dormir chorando de ver em quando, ou, sem ter, sei lá, decepções.
Todas as relações que você tiver, desde envolvimentos sentimentais carnais e ardentes, até trocas de respeito e cumplicidade, como simples e singelas amizades, servirão de bagagem para novas relações, ou para as próprias.
Cada pessoa que entra na sua vida possui um conjunto, numa visão matemática das relações. Um repertório de vivências e experiências. E todas, sem dúvidas, todas, serão diferentes das tuas. Porque até mesmo aquelas que você partilhou, foram percebidas e sentidas, de formas diferentes. Ninguém vê ou sente o mundo da mesma forma. Somos todos seres humanos únicos, ainda que gêmeos fisicamente, em alguns casos.
Seguindo uma linha de raciocínio, nossos encontros são formados por intersecções. Quando um conjunto se une ao outro, dando aquela área que a gente aprendeu no começo da escola, como “comum”. Quando a minha bagagem se une a tua, e dividimos os pesos de ambas.
Depois de colocarmos claras as coisas, depois de entendermos que cada um possui uma criação diferente, passou por etapas diferentes de formação, e sendo assim, é sentimentalmente diferente, podemos entender um pouco mais de todas as relações (conjuntos) que estamos contidos.
É loucura imaginar que alguém possa te amar menos. É viagem da sua cabeça imaginar que você ame mais alguém. Amar não é como porcentagem. Ninguém te ama 10%, outro 30, 80, 100. Ou ama, ou não ama. Ou gosta, ou desgosta. Não existe gostar um pouquinho, ou um caminhão cheio.
O que existe, na verdade, são formas diferentes de sentir e demonstrar sentimentos. Alguns necessitam mostrar em outdoors e declarações exageradas. Outros preferem um vinho e uma massa. Vão existir aqueles que mesmo com um dedo apontado na cara e um grito de EU TE AMO!, não vão conseguir enxergar. Somos sentimentalmente diferentes. Possuímos maturidades sentimentais divergentes.
Então, antes de julgar o que se passa na sua cabeça, ou das pessoas, pare e pense que nem tudo é o que parece. Nem tudo é falta de amor ou traição. Antes de dividir o presente com alguém, todos nós já tivemos passados. E isso não significa somente ex-namorados. Significa relações desenvolvidas antes. Uma vida. E tantas outras que serão constituídas durante e depois.
Por fim, amor é o dia a dia. Amar é a forma como você passa as horas. Amor é ouvir uma música e lembrar de alguém. Mas aprenda também, que só lembrar não basta. Perdemos as pessoas por falta de palavras. Não adianta só sentir, isso só não basta. É preciso, muitas vezes, dizer que sente, ou pelo menos, demonstrar do seu jeito. Se fazer ser entendido.
Amar sozinho, a gente ama o espelho. Se escolhemos alguém com quem queremos dividir momentos, sejam positivos ou negativos, devemos usar os gestos, as palavras, as artimanhas e qualquer outras ferramentas, que diga, assim, mesmo que nas entrelinhas: Ei, psiu, eu te amo. Eu gosto de você.
Temos muito pouco tempo, às vezes, pra dizer tudo que queremos. Todos os momentos são raros, só pelo simples motivo que você já sabe: eles não voltam.