domingo, 23 de março de 2014

Quem sou eu?

É que eu nunca me adaptei bem aos papeis que a vida me deu. 
Nunca consegui me encaixar em nenhum dos personagens que já criaram de mim. As pessoas têm isso, de supor em cima da gente. De darem asas as suas imaginações, achando que a gente tem obrigação de ser como eles sonharam.
Talvez eu nunca tenha sabido ser aquela criatura meio que perfeita, aparentemente sem defeitos, ou aquela boneca torta, com remendos à mostra, que já inventaram de mim. Não gosto dessas coisas que insistem em me definir, me limitar, me abrigar ao abrigo da métrica, da rima. Sou filha dos parágrafos, não dos versos.
Me veem como gostariam que eu fosse. Encenam-me peças, protagonizam-me novelas, escrevem-me contos de ‘eus’ que nem eu já ouvi dizer. Chega a ser frustrante quando esses seres de mim se chocam, vez ou outra, em mundos opostos. Dói ver criador e criatura digladiando-se rumo ao fim.
Nunca me dei bem sendo essas coisas que criaram de mim. Todas as vezes que me tentei fugir, acabei por cair completamente em mim. Provando-me para mim mesmo, que sem ser o que eu realmente sou, não posso dar um passo sem desabar.
Digo e repito, é preciso ser dono de uma coragem sem fim para se mostrar quem é. Do tipo doa a quem doer. Agrade a quem agradar. Ame-o, ou deixo-o. Nem todos amam os seres que somos. Distantes das máscaras e fantasias que vestem de nós diante dos próprios olhos, quem somos nós?
É mais fácil se enganar, e viver dentro de uma linha de conforto, do quê enfrentar a realidade. Nem todos somos tão bons quanto aparentamos. Nem tão rudes, ou doces, ou falsos, ou ainda reais. Nascemos sempre com uma banda podre. Uma parte que vez ou outra (in)felizmente se mostra e te puxa pro seu lado ser humano.

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