Sou aquela falta de senso, sou aquele ser que escutava tudo e sobre tudo perguntava, que hoje fecha-se em lábios calados... Sou a antiga pureza que foi profanada. Sou o mancebo que tanto cortejava, e que não se importava em receber nãos. Sou aquela esperança, hoje tão rala, que aos poucos, esvai-se do meu coração. Sou feita do amor daqueles que me tanto amaram nesta vida passageira, sou feita do afeto tão precioso dos meus escassos, porém dedicados amigos. Sou a princesinha que cansou de sonhar acordada com seu príncipe encantado, sou a donzela que largou a vida de rainha atrás de aventuras, sou a adulta que não suporta a idéia de velhice...
Sou o que perdi.
Fernando Pessoa
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