sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Pequenas certezas

Eu não duvido do poder da música. Em um dia preto e branco ela me colore. Em um momento de tristeza ela traz de volta um meio sorriso. Em uma situação delicada ela me socorre.

Eu não duvido do poder do abraço. Ele transforma corações. Aproxima uma alma da outra. É a ponte para o reencontro. Traz de volta a paz. Remove qualquer impureza do espírito.

Eu não duvido do poder da chuva. Ela manda embora toda a desgraça, desamor e sujeira. Deixa tudo mais puro e renovado.

Eu não duvido do poder de um sorriso. Ele quebra qualquer gelo, desmonta uma cara feia, desarma quem trouxe munição no peito.

Eu não duvido do poder do olho no olho. Ele traz a confiança, a vontade de acreditar, a certeza de que ainda existe salvação.

Eu não duvido do poder do sol. Ele traz a saúde, devolve a beleza e de quebra ainda esquenta quem já congelou por dentro há tempos.

Eu não duvido do poder do perdão. Ele faz as cicatrizes ficarem mais suaves, devolve o viço da pele, ilumina o dia e o passado.

Eu não duvido do poder do amor. Ele traz o apoio, oferece o suporte, segura forte a mão, ajuda a segurar qualquer fardo, por mais pesado que possa parecer.

Eu não duvido do poder da fé. Ela ampara, acalenta, acolhe, aconchega, nos pega no colo e cantarola uma linda canção de ninar.


Eu não duvido do poder da vida. Ela ensina, reconstrói, resgata, ajuda, reencontra. E cura.

O que não quero mais

Não quero mais saber de você, que ri da desgraça do outro. Que faz o possível e o impossível para atingir seu objetivo, sem se preocupar em manter a dignidade, o caráter, a honestidade e o respeito. Que humilha quem tem menos que você. Que fala coisas do tipo é-por-isso-que-vai-ser-sempre-caixa-de-supermercado. Que pergunta com arrogância sabe-com-quem-você-está-falando? Que passa por cima de qualquer um só para ganhar um prêmio, um upgrade na carreira ou um elogio do chefe. Que esquece que o mundo é bem redondinho, nunca para de rodar e que hoje você pode estar no topo, mas amanhã talvez esteja no chão.
Não quero mais saber de você, que não tem educação. Que acelera o carro antes do sinal abrir. Que não é capaz de segurar a porta do elevador para o vizinho entrar. Que não tem paciência em escutar uma pessoa mais velha contar a mesma história mais de uma vez. Que faz questão de passar rápido pela poça d'água só para molhar quem está esperando um táxi. Que não cede o lugar no ônibus para uma mulher grávida ou idosa. Que pensa que as palavras "obrigada", "por favor", "com licença" e "bom dia" são demodê. Que acha que garçons, garis, vendedores e atendentes não merecem respeito. Que não sabe o que é uma gentileza.
Não quero mais saber de você, que se acha o centro do mundo. Que acha que tudo é recalque, inveja ou despeito. Que pensa que tem um poder fora do comum. Que não percebe que é apenas mais um e que nós todos somos iguais.
Não quero mais saber de você, que não valoriza um sentimento. Que acha que as pessoas são descartáveis. Que brinca com um coração e depois joga no saco de lixo como se fosse um brinquedo velho e quebrado. Que não entende que as relações precisam de paciência, doação e sinceridade.
Não quero mais saber de você, que não cuida do mundo. Que deixa a torneira aberta enquanto escova os dentes. Que toma um banho de 458 horas. Que joga papel do chiclete pela janela do carro. Que não junta o cocô que o cachorro fez na calçada. Que não apaga a luz quando sai do quarto. Que não separa o lixo. Que deixa a comida estragar na geladeira.
Não quero mais saber de você, que não pensa no outro. Que fica rindo alto no cinema. Que dá festas no apartamento com som alto depois da meia-noite. Que passa reto pela criança com fome. Que nunca olhou para o lado pra ver o que está acontecendo. Que não sorri para quem passa pelo seu caminho. Que não percebe que uma simples palavra muda o dia de alguém.
Não quero mais saber de você, que só pensa em vingança. Que esquece que todo mundo já errou um dia. Que ainda não entendeu que as pessoas nunca serão perfeitas. Que não sabe que o perdão é uma das coisas mais bonitas do mundo inteiro.
Não quero mais saber de você, que não quer evoluir. Que não se importa em aprender algo novo todo dia. Que não faz questão de reparar os erros. Que não se esforça em melhorar, estudar, crescer, ser melhor.
Não quero mais saber de você, que não consegue apreciar um pôr-do-sol. Que endureceu com os tropeços da vida. Que não sabe rir de si mesmo. Que não consegue dar um abraço sossegado, um olhar compreensivo, uma palavra de afeto. Que não tem a leveza necessária para enxergar as belezas diárias da vida.
Não quero mais saber de você, que não sabe amar.